Interiorizar, buscar integração com nossa essência
interior, está relacionado ao contato com a nossa mais real e profunda identidade.
Portanto, o exercício pleno de nossa condição de Ser Humano requer fundamentalmente
uma questão de autoconsciência dessa nossa particular história de humanidade, o
que se correlaciona com: silêncio, humildade, paciência, perseverança; e,
sobretudo Amor.
Particularmente creio que esse estado sugere uma integração
incondicional aos elementos – Palavra, Sentimento e Ação, correspondendo ao
equilíbrio interior proporcional aos centros: Ser, Sentir e Pensar.
Conseqüentemente, essa autoconsciência só tem condições de
aflorar quando permitimos o devido espaço interior em nosso Ser.
Porém existe uma dinâmica exterior oposta a esta direção, que
aparentemente se impõe “socialmente”.
De modo que nesse contexto “surge” um agente abstrato e
subjetivo de sedução “personificado” pelo substantivo => “As pessoas”...
Assim, geralmente, deixamos de fazer ou realizar algo de
grande importância pessoal, paradoxalmente, considerando que “as pessoas”
seguiriam em direção oposta...
Vou dar um exemplo bem simples e comum:
Em uma festa, nem sempre estamos pré dispostos a
determinados comportamentos, mas, sob a pressão “das pessoas”, geralmente nos
excedemos quando não temos o devido equilíbrio: seja na alimentação, quanto em
determinadas atitudes.
Além disso, sem perceber, podemos incorrer no erro de que
todas as nossas ações sejam balizadas pelo que dizem “as pessoas”, muitas vezes
em detrimento daquilo que me parece se afigure mais fundamental, ou seja, a
subjetiva ação consciente.
Em decorrência desse processo, creio que, por exemplo, prevalece
por aqui a ótica capitalista que se caracteriza pela exacerbação da ansiedade e
a “corrida” pelo tesouro falso – conduzindo na prática para a idolatria ao deus
Dinheiro, que invariavelmente insensibiliza o potencial de humanidade e acentua
a “programação” para o ser sub humano.
É por isso que as Sociedades se configuram decadentes...
Persistindo esse modelo justamente pela hipnose do Poder
que corresponde à imposição de “modelos” de humanidade.
Essa “contaminação” abrange os diferentes setores da
Sociedade:
ð Governos que são instaurados
sob essa falácia – pregando serem os principais agentes responsáveis pela
Justiça e Ordem Social (das pessoas...), na realidade se sustentam pela
continuidade do caos, da fome e da ignorância (tanto no plano material como
espiritual). Na linha do Poder alimentam
a riqueza e a arrogância que gera esse mundo de contrastes.
ð Governantes – o engodo
da representatividade – onde o representante detém o Poder sobre aqueles que
jurou representar (as pessoas...), a começar pela quantidade de benefícios que
este cargo conduz.
Porque, e com que direito isso
acontece??!
Se alguém “nos representa” não
caberia que na condição de “representados” pudéssemos determinar os limites
dessa representação, desde salários até critérios de moralidade entre os nossos
supostos representantes...
ð Governados – simplesmente
somos “programados” a aceitar que sejamos “representados”, sem que tenhamos o
direito de opinar sobre determinadas posições contrárias ao nosso próprio
interesse. Desse modo, passamos a “depender” de uma sensibilidade que
simplesmente não existe da parte daqueles que detém o poder, haja vista ser
esta representatividade uma forma de garantia de privilégios desses
representantes sobre o cidadão comum, a começar pela questão salarial.
No fundo, somos induzidos a
crer que existem Super Homens, que podem resolver sobre o nosso Destino (das
pessoas...); bem como estes seriam os “responsáveis” pela nossa felicidade;
como se fosse possível um determinado grupo que detém privilégios e condições
superiores à maioria, devido a sua condição política, de repente, abdicassem de
tantas benesses ou em outras palavras, estendessem a população às mesmas
condições “privilegiadas” que ele passou a desfrutar, ou sempre desfrutou.
Será que haveria tantos
políticos, se na investidura de qualquer cargo dessa natureza, os mesmos
tivessem que obrigatoriamente terem seus familiares utilizando os serviços
públicos oferecidos a população, desde saúde, até segurança e educação, bem
como, terem os seus proventos estabelecidos a partir de uma concessão dos seus
“representados”- ou seja o povo; ou até mesmo não receberem nenhum valor, pois
teriam de ter uma profissão regular.
Creio que a complexidade
dessas questões está diretamente envolvida nas sutilezas que dizem respeito à
essência de cada ser individualmente. Contudo, ao sermos de certa maneira ”programados”
(inclusive pela nossa própria ignorância sobre o valor fundamental da nossa autoconsciência
interior), entramos em um circuito teatral onde somos manipulados e nos
deixamos manipular, desperdiçando assim nossa energia vital.
Claudio Pierre
(Do Registro Diálogos / Consciência // Discursos de um Plebeu).
2 comentários:
O problema do sistema representativo atual é que não se engendrou outro, ainda, que fosse mais representativo de fato. A proposta de uma democracia representativa de verdade esbarra no fato da acomodação, da alienação voluntária e induzida, da diferença de percepções devida à diferença abissal de nível de informações entre os elementos constitutivos do tecido social, que é muito diversificado, e por fim, da dificuldade de estabelecer algo que não seja induzido, que não seja uma proposta de alguma vanguarda ou grupo pré-organizado - o que tornaria essa nova democracia um jogo de cartas marcadas, também. Inventar um novo sistema de assembléias não basta, a meu ver, para implementar uma nova democracia de fato. Talvez a própria questão do que é governo devesse ser rediscutida. O fato é que os homens nem sempre agem em convergência, há muitos antagonismos naturais e induzidos, a existência de uma coisa chamada governo buscou, desde sempre, solucionar esses conflitos também - além de agregar os seres naquilo que não pudessem fazer sós e que se mostrasse uma necessidade coletiva.
Certamente uma solução definitiva para a resolução da ordem social se afigura utópica nesse nível de humanidade e desumanidade em que nos encontramos, qualquer que seja a estrutura de governo. Acredito que o verdadeiro Poder só pode ser relativamente exercido quando temos consciência do que estamos fazendo aqui, bem como de nossa frágil condição humana. A transformação começa pelo
Simples, pois a Natureza se manifesta quando a respeitamos e nos colocamos no papel que nos cabe nesse ciclo transitório em que nos encontramos.
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