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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

“De mensalão e futebol, todo brasileiro entende um pouco”

JUIZ LADRÃO!
(ou: “De mensalão e futebol, todo brasileiro entende um pouco”)

                 Da analogia com o futebol, paixão nacional, aprendemos que juiz que apita pra um lado só é ladrão. O juiz pode até ter time – vários árbitros famosos do nosso futebol tinham ‘time de coração’ – mas não pode demonstrar isso em campo e nem apitar de acordo com tal critério. Nos jogos em que o juiz-torcedor é escalado, o time pelo qual torce não poderia estar em campo e vice-versa, mas quando isso acontece, um dever sagrado dos narradores do jogo seria o de fiscalizar a atuação do juiz para garantir não haver favorecimento indevido ou penalização injusta.
                 A analogia com o futebol não pára aí: juízes têm que ter um comportamento exemplar e não devem ficar se explicando para a imprensa ou para quem quer que seja: a súmula é onde justificam e registram seus atos. Se algum jogador desobedece ou desafia, leva cartão – até os técnicos de ambos os times podem ser expulsos de campo. Árbitros devem ser soberanos e firmes na hora de arbitrar. No máximo, podem levar umas laranjadas da torcida e ter que sair de campo escoltados, ou serem xingados, mas não podem e nem devem ouvir os comentaristas durante o jogo e nem apitar para satisfazê-los e nem aceitar intimidações. Quando erram, há um tribunal acima deles para decidir controvérsias, pois apesar de gozarem de autonomia e autoridade em campo, não são infalíveis e nem intocáveis.
                No campo jurídico, as coisas mudam um pouco de figura. Apesar das analogias existentes e esperadas, Supremas Cortes parecem sofrer e aceitar pressões dos meios de comunicação, mostrando-se às vezes menos independentes que meros árbitros de futebol. Ao contrário de alguns árbitros de futebol ‘peitudos’, chegam a curvar-se à gritaria e à torcida de um dos lados, a que grita mais alto sempre. Se curvam até à pressão dentro de campo, às vezes, mudando de posição na hora. Quando erram, lá no ‘tapetão do STF’, só se pode recorrer a uma corte fora do país, a CIDH (Corte Internacional de Direitos Humanos), a cuja jurisprudência nosso país se vincula por tratados em questões envolvendo tais direitos, dentre os quais figura o de julgamento justo e imparcial e de ser considerado inocente até trânsito em julgado. Foi para lá que os aposentados que tiveram que continuar contribuindo para a previdência, apesar de estarem aposentados e já terem contribuído toda a vida para isso, tiveram que apelar, estando no aguardo de uma decisão saneadora.
                    Já que o julgamento do mensalão virou um mero jogo de torcidas, fartamente apresentado em manchetes e horário nobre, à semelhança dos certames futebolísticos principais, e uma vez que já tivemos vários juízes considerados ‘ladrões’ no futebol, acusados durante um bom tempo até de receber acertos para arbitrar a favor ou contra determinados times, ficaria a tentação de acusar os outros, do STF, de igual prática. Não o farei aqui, mas reservo-me o direito de mudar meu entendimento, como dizem alguns magistrados, já que chegam a julgar de modo diverso causas idênticas e a adiantar penas antes do fim do julgamento, o que, como se sabe, é totalmente irregular e ilegal.
                     Se o esquema do ‘mensalão’ sempre existiu (compra de partidos, é o que dizem eles), já que seu operador já ‘operava’ desde longa data para vários outros partidos, sempre com grande sucesso (rolo compressor de FHC, por exemplo), como é que só agora ‘descobrem’ e imputam a culpa do referido e suposto esquema ao partido que chega? Sim, se a corrupção já estava instaurada como norma de funcionamento político, como dar cartão vermelho a um só partido e seus eventuais aliados e acusá-lo de iniciar aquele sistema? Voltando à rica analogia com o futebol, se a porrada já comia solta dentro de campo desde o começo da partida, ou durante todo o campeonato, como pôr a culpa da violência e do anti-futebol em um time ou em um jogador apenas? Excelências, isso é roubalheira, marmelada!!! (O mais curioso é que os mesmos que agora os aplaudem ardentemente, até data bem recente os chamavam de ‘filhos da p ...!’ – condição à qual com certeza voltarão naturalmente, assim que passar esse campeonato).

Flávio Prieto

4 comentários:

almadelua disse...

Meu caro,
Seu artigo é relevante. O jogo de futebol inclusive tem correlação com a prória vida...
Quanto a questão da "estrutura de politicagem"; sem dúvida, ela ainda está presente; contudo, julguei que o PT fôsse fazer diferente, mas me iludi - votei no Lula e na "bandeira do Pt" por dois mandatos e constatei algo de extremamente nocivo que é a tal de luta do "Poder" pelo "Poder da Politicagem".

As Leis são também um capítulo à parte - é como se o simples conceito de Lei representasse algo "acima de qualquer suspeita" -o que não é verdade - visto a "qualidade" de nossos legisladores e a forma pela qual eles entram em cena via "partidos políticos"...
Escrevo há aproximadamente 02 anos um livro denominado:"Discursos de um Plebeu" => nele ressalto essas mazelas; principalmente com um enfoque voltado para a espiritualidade e meditação - que para mim é o "tempero" que falta, não para ressolução de "todos os problemas" (pois a vida é um problema); mas, no sentido de exercer nossa Humanidade com autenticidade.

Apelido disponível: Sala Fério disse...

Prezado almadelua, não me decepcionei com o PT, já que esse partido assumiu o ônus de governar em um sistema preexistente, sob condições dadas - e conseguiu, a despeito de tudo, realizar muito pelos historicamente excluídos. É óbvio, como dizem Leonardo Boff e Wanderley Guilherme dos Santos, que isso não passaria impune ...
Discordo de algumas alianças pontuais (com Maluf, por exemplo, ou com o próprio Jefferson pre-mensalão), mas noto que até para aprovar orçamento tem que ter maioria. Se fazer coligação agora virou crime (julgamento do STF vai nessa direção, alargando a interpretação de 'compra de apoio'), fica difícil governar.

almadelua disse...

A consciência da Unidade passa pelo respeito as diferenças...

Só queria acrescentar que os conceitos propalados pelo PT relacionados justamente a lissura e honestidade foram "esquecidos"; ou seja, trairam o princípio ideológico de uma de suas maiores bandeiras. Essa não é uma questão romântica => se a população for legitimamente estimulada a participar efetivamente desse processo pelos "exemplos de cima", independentemente dos "problemas inevitáveis" a consciência do Cidadão e do País se fortaleceria.
// P.S. Nesse contexto, sempre me considerarei um excluído enquanto um agente de cultura, pois antes da idéia plantada "fome zero"; existe uma miséria na Educação, Cultura e Saúde - afinal os "políticos" - não utilizam os mesmos serviços públicos que são oferecidos a população, e ainda posam como "paladinos" - "defensores do povo" - se servindo dos impostos pagos pelo povo para usurfruirem desses mesmos Serviços com uma "qualidade/realidade" totalmente diferente do povo - isso é Demagogia.

Apelido disponível: Sala Fério disse...

Aceitando-se de maneira irrestrita as acusações ao PT imputadas, de fato haveria essa contradição. Mas aí eu pergunto: essas acusações são mesmo consistentes ou fazem parte de uma estratégia dos que perderam o poder e dos que querem chegar a ele para bombardear o PT?
Com relação às condições da Saúde e Educação, basta ler o PNUD (ONU) pra ver que muita coisa tem tido melhora considerável. Sem comer, não dá pra estudar e fica-se de fato doente. Melhorar a condição econômica de 'uma Argentina inteira' (mais de 30 milhões) é demagogia? Até Boff reconhece isso.