Páginas

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

SOU

Sou



Sou o que sabe não ser menos vão 
Que o vão observador que frente ao mudo 
Vidro do espelho segue o mais agudo 
Reflexo ou o corpo do irmão. 

Sou, tácitos amigos, o que sabe 
Que a única vingança ou o perdão 
É o esquecimento. Um deus quis dar então 
Ao ódio humano essa curiosa chave. 

Sou o que, apesar de tão ilustres modos 
De errar, não decifrou o labirinto 
Singular e plural, árduo e distinto, 
Do tempo, que é de um só e é de todos. 

Sou o que é ninguém, o que não foi a espada 
Na guerra. Um esquecimento, um eco, um nada. 

Jorge Luis Borges, in "A Rosa Profunda" 

Nenhum comentário: